[Historiador (cof, cof, muitos cofs) não resiste a uma comparação. Nem a uma citação. Desculpem.]
"O essencial é que o povo de Paris não se subleve; pode agitar-se, murmurar, ter seus acessos de febre, porém não explode, sobretudo se 'o abastecimento chega com abundância'. É esta uma das vocações da polícia enquanto ciência do governo dos homens, é esta uma das maneiras pelas quais o Estado monárquico soube, depois de Luís XIV, garantir-se contra os protestos populares. (...) O povo de Paris, por seu número, por seus hábitos, desempenha no sistema de conjunto um papael particular, já que as autoridades temem suas explosões mais que em outros lugares. O ano negro de 1709 está ali para justificar essa atenção.
(...) Dos dias frios do inverno de 1709 aos dias quentes do verão de 1789, uma mesma mentalidade explica o protesto popular. A polícia e o povo estão unidos por uma tradição em que o problema dos grãos é uma questão, não de economia, mas de política. Dizer que o povo não tem consciência política é esquecer isso ou reduzí-lo a uma consciência primitiva de sobrevivência; ora, a política dos grãos é uma política que se traduz em mística. (...) Eis por que, (...) a vontade popular fez capotar o aggiornamento da economia: feno do liberalismo para quem morre de fome, viva a taxação! A teoria não deve prevalecer sobre a prática secular, o rei não pode desejar que em nome do interesse privado se esfaime o seu povo."
(ROCHE, Daniel. O Povo de Paris: ensaio sobre a cultura popular no século XVIII. trad. Antonio de Pádua Danese. SP: Edusp, 2004. p. 355-356)