domingo, fevereiro 05, 2006

Torcedores

As lágrimas de meu irmão após a derrota do Brasil para a França, nos pênaltis, na Copa do Mundo do México em 1986, formam a primeira lembrança que tenho sobre futebol. A que tenho do Corinthians é o gol de Viola contra o Guarani na final do Campeonato Paulista de 1988 que vi pela televisão com meu pai. Poucas coisas no Brasil unem tanto os homens de uma família quanto o futebol. Era curioso assistir aos jogos do Corinthians ou da Seleção Brasileira com eles na mesma sala.

Meu pai era o tipo de torcedor que reclamava somente de seu próprio time, do técnico, do goleiro inseguro, da falta vontade e habilidade dos jogadores. Poucas vezes vi meu pai insinuar que o time estava sendo prejudicado pelo juiz. As derrotas eram resultado das deficiências do próprio time. E ele reclamava do time o tempo todo.

Meu irmão, ao contrário, possuía um extraordinário auto-controle durante uma partida. Evitava fazer qualquer tipo de comentário a respeito da atuação do time ou do juiz. Os sentimentos represados afloravam em explosões de alegria no momento do gol ou de tristeza em caso de derrota. Era um torcedor muito angustiado. Dos mais angustiados que já conheci.

Quanto a mim, como o auto-controle de meu irmão ficava sempre por um fio diante das efusivas manifestações da opinião de meu pai, acompanhava esse embate psicológico de gerações sem tomar posição, o que talvez explique minha atual opção pela moderação. Ainda assim, sou o responsável por introduzir o palavrão durante o futebol, único momento em que eles poderiam ser pronunciados sem ameaças a integridade física da boca e dos dentes.

Na Copa da Itália em 1990, meu irmão abandonou a sala em que estávamos assim que Canniggia marcou para a Argentina o gol que desclassificaria o Brasil, e foi assistir ao restante da partida no quarto dos meus pais, enquanto meu pai continuou na sala criticando toda a comissão técnica brasileira pelo fracasso. Passei o resto do jogo em trânsito, do quarto dos meus pais para a sala e dali de volta para o quarto. Ao final da partida, vi meu irmão chorar outra vez.

O último embate que vi entre os dois foi durante a segunda partida da final do Campeonato Paulista de 1993 entre Corinthians e Palmeiras. O Corinthians havia vencido a primeira partida por um a zero, gol de Viola, e jogava por um empate. Na segunda partida, o Corinthians teve o zagueiro Henrique expulso logo no início da partida, assim como o goleiro Ronaldo. O Palmeiras massacrou o Corinthians naquele jogo, ganhou o campeonato e saiu da fila de dezessete anos sem título em cima do arqui-rival. Em casa, esqueci a moderação e quase colocamos meu pai para correr.

2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Lembro da tristeza da copa de 1982.

Lembro do meu irmão chorando, na calçada, a eliminação de 1986.

Lembro do porre de vinho que tomei por causa daquele maldito Caniggia, em 1990.

Lembro das noites mal dormidas causadas por José Aparecido, Parmalat, Edmundo, Evair e Cia. até hoje; No meu universo paralelo aquele jogo terminou 0 x 0 para desespero da porcada.

Um abraço,

Giba

2:15 PM  
Blogger kellen said...

adriano, adorei esse post. lembrei do dia em que vi meu avô chorar (muito), naquela final patética contra a frança, em 98. e nas tantas vezes q os homens da minha família faziam "arquibancada" na sala lá de casa para ver o timão... saía cada coisa!hehehehe

10:00 PM  

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