Quase dois irmãos

quarta-feira, junho 28, 2006

Preferências

A seleção de Gana era imprevisível e não tinha nada a perder. A responsabilidade era toda da seleção brasileira. Cheguei a dizer que preferia um confronto com os italianos porque na hipótese de derrota nosso consolo seria ter perdido para um time de camisa. Errei.
Gana tem uma seleção bem intencionada. Atacou, teve maior tempo de posse de bola, tocava bem e construiu algumas chances claras de gol, mas é muito café-com-leite. Não perdeu por diferença maior porque o Brasil jogou para o gasto. E é isso que deixa torcedores como o Zé compreensivelmente inconformados.
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A falta de pontaria dos ganeses deixou a seleção brasileira acomodada em campo o que obrigou Dida a fazer duas boas defesas e um milagre. Ronaldinho e Kaká erraram muitos passes, Adriano prende demais a bola e não adiantou substituí-lo por Juninho. Ricardinho fez ótimos lançamentos e com ele em campo a bola correu mais.
E Ronaldo fez um golaço!
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Ronaldinho jogará seu grande futebol na próxima partida. Sempre.
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Como a maioria dos brasileiros eu também preferia enfrentar a França nas quartas. Até o jogo de ontem. Os zagueiros espanhóis são grossos, atuam em linha e se enfrentassem o Brasil tomariam uma sonora goleada.
Os jogadores franceses novamente não me pareceram muito preocupados com a partida. Aos 35 do segundo tempo devem ter se perguntado uns aos outros - Estão gostando da Alemanha? Como a maioria disse oui, foram lá e meteram mais dois gols. Vieira é o melhor francês da Copa e Ribéry, considerado pela torcida o substituto de Zidane (mas falta muito croissant), jogou muito bem.
A Espanha deveria agradecer ao técnico Domenech por manter Trezeguét no banco e ao Henry por ficar tantas vezes impedido e poupá-los de um vexame maior.
E Zidane fez um golaço!
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Quartas-de-final para não sair de casa!

segunda-feira, junho 26, 2006

Figo não vai ser suspenso pela cabeçada em Van Bommel porque segundo a FIFA o juiz Valentin Ivanov avaliou o lance e puniu o jogador durante a partida. Entretanto, na partida Itália e EUA, o juiz Jorge Larrionda expulsou De Rossi e Mastroeni e ainda assim a FIFA suspendeu o jogador italiano por quatro partidas e o americano por três.
Não satisfeito, Felipão disse que a Federação Portuguesa deveria pedir a anulação do primeiro cartão amarelo mostrado ao jogador Deco com base no documento de fair play da FIFA. Com isso, o jogador poderia atuar na partida contra a Inglaterra. Segundo Felipão, a Madre Tereza dos gramados, a falta de Deco ocorreu em conseqüência da falta de fair play da equipe holandesa.

Do contra

É verdade que a marcação do pênalti contra a Austrália definiu a partida, mas a Itália também havia sido prejudicada pelo árbitro porque jogou praticamente todo segundo tempo com um homem a menos após a inexplicável expulsão do zagueiro Materazzi.
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Ouvi em alguns noticiários que foi um pênalti duvidoso. Pênalti duvidoso é uma expressão cretina. Nessa hora, comentarista que se preze tem que tomar partido. Não houve pênalti, mas concordo com o Wright: no momento do lance, teria marcado. Continuaria errado, mas alguém tem que apitar o jogo.
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A preocupação com a arbitragem é compreensível, mas estamos bem longe do escândalo da Copa de 2002. E apesar da falta de gols e alguns jogos muito ruins, é impossível que esta Copa seja pior do que a de 1990.

Se

Alguns repórteres e comentaristas disseram que se Boulahrouz tivesse sido expulso naquela falta em Cristiano Ronaldo, provavelmente o jogo não teria descambado para a violência que se seguiu.
Da mesma forma, se Costinha tivesse sido expulso logo após receber o cartão amarelo, se Nuno Valente tivesse sido expulso ao acertar uma voadora no ombro do jogador holandês dentro da área, se Deco tivesse sido expulso na falta em que tomou apenas cartão amarelo, se Figo tivesse sido expulso após a cabeçada em Van Bommel, se Felipão não fosse técnico de futebol...

sexta-feira, junho 23, 2006

Cético

Se todos os times que jogarem contra o Brasil fizerem como o Japão, ótimo. Não vai ser o caso. Em termos de classificação, o Japão iniciou a partida perdendo de 2 a 0 e o Brasil cumpriu tabela. A seleção japonesa é rápida e esforçada, mas marca mal e finaliza pior. Da mesma forma que achou o gol contra o Brasil, a seleção empatou de maneira fortuita.
Já sei, já sei, o Brasil finalizou muito mais e merecia terminar o primeiro tempo vencendo a partida. Concordo. Mas preste atenção no primeiro gol brasileiro: cruzamento de cabeça (de cabeça!) de Cicinho, que supostamente deveria ser mais hábil nos cruzamentos com os pés, para gol de cabeça (de cabeça!) de Ronaldo. Fala sério! (homenagem atrasada ao Bussunda)
No segundo tempo, o Brasil jogou com a marcação que sonhava. Insisto, time que joga e deixa jogar, perde.
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A mudança mais provável para o time que enfrentará Gana é a entrada de Robinho no lugar de Adriano. É muito bom ver Ronaldo marcar novamente. E com os gols de ontem, perdão pelo óbvio trocadilho, Ronaldo está mais leve. Mas estivesse em campo Adriano teria feito os mesmos gols e hoje estaríamos dizendo que Ronaldo deveria ficar no banco. As outras modificações seriam a entrada de Gilberto Silva e Juninho, nessa ordem.
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"Ah, Lúcio, você no ataque é muito engraçado!"
(José Silvério, narrador, comentando o lance mais grotesco da partida)

quinta-feira, junho 22, 2006

Ah, vá

Argentina e Holanda não quiseram manchar as respectivas campanhas e evitaram um mal começo para a próxima fase. Podem até ter feito uma partida de bom nível técnico, mas o zero a zero no placar derruba qualquer argumento. Irã e Angola pelo menos empataram em 1 a 1.
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Escalação na última hora? Parece mais frescura do que indício de "mudança no time". A escala euforia-desconfiança-raiva começa a dar seu alerta vermelho.
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Dos oito times que entram em campo hoje, somente o Brasil está classificado, mas os outros sete têm chance de classificação. O dia na Copa promete.

quarta-feira, junho 21, 2006

Patrícios

Portugal jogou com cinco reservas e venceu o México com relativa facilidade. Foi pressionado durante alguns momentos, e apesar de falhas pontuais na zaga, o goleiro Ricardo fez boas defesas. O torcedor português já deve ter esquecido Vítor Baía. E Felipão faz história.
Quanto ao México, Rafa Marques matou saudade dos tempos de escola e fez um pênalti bobo, Omar Bravo perdeu um pênalti e um gol cara-a-cara e Perez foi expulso após simular um pênalti. Se jogarem assim de novo, os mexicanos vão passar vergonha na próxima fase.
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Com exceção do Equador, os times que entraram com reservas jogaram melhor. Isso não quer dizer que o Brasil deveria fazer o mesmo, calma. Pelo contrário, se o problema dos titulares é falta de ritmo, preservar jogadores é uma contradição. Além disso, é bem capaz do Robinho tomar o segundo cartão amarelo e ficar fora do próximo jogo.

Suécia 2 X 2 Inglaterra

Para alegria de ingleses e alemães, a Inglaterra se classificou em primeiro lugar do grupo B. Os ingleses avançam para as oitavas com sérios problemas no ataque. Owen contundido provavelmente não joga mais e Rooney se recupera de fratura e está sem ritmo. Apesar do exótico Crouch (a evidência de que alguns ingeleses sofrem de desnutrição) ser a referência para as bolas alçadas na área, não é um jogador que decide. Beckham e Lampard também não apareceram na partida, mas o pequeno Joe Cole marcou um golaço e foi o melhor em campo. Ironicamente, dessa vez foram os ingleses que sofrereram com as jogadas aéreas.
Os suecos correram o tempo todo e jogaram com uma raça incompatível com a frieza nórdica. Por isso a Suécia pode dificultar a vida dos alemães. Aliás, arrisco dizer que a Suécia jogou melhor sem Ibrahimovic. Um artilheiro como ele não pode ficar fora de um time, mas jogador imprescindível é o que faz a diferença.
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O jogo estava empatado em 1 a 1 e a Suécia já merecia a virada quando o técnico da Inglaterra Sven-Goran Eriksson decidiu substituir o atacante Rooney pelo meio-campo Gerrard para fechar de vez o time e manter o placar e o primeiro lugar do grupo. Rooney ficou extremamente contrariado, ameaçou chilique e uma boa parte da torcida inglesa deve ter reservado alguns adjetivos pouco lisonjeiros ao técnico. Pois bem, Gerrard entrou, evitou gol sueco ao tirar uma bola em cima da linha e ainda marcou o segundo gol da Inglaterra.
Moral: ninguém entende nada de futebol.

terça-feira, junho 20, 2006

Diferenças

A primeira diferença entre as duas seleções classificadas no grupo A é que o Equador já jogou contra uma grande equipe. Os alemães melhoraram bastante em relação às partidas anteriores, mas ainda precisa passar por um teste de verdade. Para a Alemanha, a Copa começa nas oitavas-de-final. Para o Equador, termina. E essa é a segunda diferença.

segunda-feira, junho 19, 2006

Nas oitavas

É possível que os jogadores da Sérvia e Montenegro tenham se dado conta no meio da partida de que era um contra-senso disputarem a Copa do Mundo por uma seleção que tem uniforme e hino, mas que não representa nenhum país. E se ganhassem a competição, para onde iria a taça? A FIFA consideraria dois países detentores de um único título? Para a paz mundial foi melhor assim.
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A Argentina passeou no último jogo, mas espero que não tenha gasto todo o futebol no jogo-exibição. E o Pekerman não vai colocar três atacantes nunca mais. Pode esquecer.
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Felipão classificou a seleção portuguesa do jeito que imaginávamos. Não convenceu ninguém, mas continua na Copa.
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Não há nada decidido no grupo E. Itália e EUA foi um dos melhores jogos da competição até aqui, mas mostrou que apesar de ser um time equilibrado em campo, os italianos se descontrolam facilmente durante a partida. O que não representa novidade alguma. Acredito que se classificam como sempre. E também como sempre com as calças na mão. No outro jogo, o preparo físico de Gana foi fator decisivo para a vitória contra a República Checa. Os checos sem a dupla de ataque titular não apresenta o mesmo futebol e deve ficar de fora. Uma pena se pensarmos que por causa do regulamento dois times do grupo B se classificaram para as oitavas.
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A impressão que tenho é a de que no fundo a França não queria ter ido à Copa, mas agora está lá e tem obrigação de jogar as três partidas da primeira fase. Os franceses em campo jogam como se estivessem trabalhando na firma numa sexta-feira depois daquele feriado que o chefe não quis emendar. Zidane pelo menos abreviou seu sofrimento, tomou dois cartões amarelos e está fora da próxima partida. Uma despedida melancólica, mas novamente mostrou mais competência e fez tudo o que os jogadores franceses gostariam de fazer.
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Sobre o Brasil, nada a acrescentar. Jogou um pouco melhor, mas alguns jogadores estão devendo uma apresentação respeitável. Ronaldinho Gaúcho proporcionou o lance mais bisonho que vi na Copa. Não era esse tipo de espetáculo que se esperava dele, mas se continuar assim a patrocinadora esportiva deveria colocar uma vírgula no slogan Joga 10.

quarta-feira, junho 14, 2006

Heptágono

Dizer que o Brasil não jogou bem talvez não seja muito honesto. Tudo bem, o que as outras seleções fazem não é problema nosso, mas se até aqui todas as outras seleções vêm jogando para o gasto, por que a Seleção brasileira tem que dar espetáculo?
A defesa brasileira estava mais exposta que mulata em desfile de Carnaval. Foi muito exigida e jogou muito bem. Dida seguro fez boas defesas. Juan e Lúcio foram precisos nos desarmes, os laterais mostraram fôlego sobrenatural, Émerson matou seu leão do dia e Zé Roberto cumpriu uma função que não é bem a sua. Kaká procurou jogo e marcou um golaço. Ronaldinho será marcado assim durante toda a Copa e sabendo disso poderia e deveria ter se movimentado mais. Adriano e Ronaldo estavam irreconhecíveis. Robinho deu mobilidade ao ataque, mas foi só.
A figura geométrica marginalizada e sacrificada pelo esquema cumpriu sua parte.
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O que diríamos hoje se Ronaldo tivesse marcado naquele que foi seu único chute a gol durante a partida? O Parreira tem razão em mantê-lo como titular para o próximo jogo contra a Austrália. Depois disso a gente vê.
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O melhor que pode acontecer para o Brasil agora é a Croácia vencer seu próximo jogo, porque seria extremamente desagradável encontrar o Japão com chances de classificação na última rodada.
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Como desconfio que o quadrado não vai durar muito, o Parreira poderia tentar um esquema com o Ronaldinho no lugar de um dos atacantes e Juninho no meio. Daria mais equilíbrio ao meio campo e maior mobilidade e criatividade ao ataque.

domingo, junho 11, 2006

De primeira

Passada metade da primeira rodada, vemos uma Copa muito bem organizada, estádios lindíssimos, arquibancadas lotadas e festivas, arbitragens decentes, cobertura massacrante da imprensa, mas futebol que é bom mesmo, nada. Deve ser excesso de expectativa, mas achei os jogos muito chatos.

Grupo A
A Seleção alemã é a única em que a culpa pela vitória ou pelo fracasso será sempre e exclusiva do técnico. A disciplina tática dos jogadores é algo comovente. Eles cometeriam suicídio coletivo durante a partida em Munique, se Klinsmann assim exigisse. Os técnicos de outras seleções devem sentir uma certa inveja quando assistem aos jogadores alemães desempenharem exatamente aquilo que está na prancheta. O resultado não poderia ser diferente, uma vitória fácil, mas que não convence.
A única explicação que encontrei para a insistência na jogadas pelo alto entre os poloneses é que a seleção deve treinar com bolas calibradas com hélio. Inclusive seria prudente fechar o espaço aéreo de Dortmund para o jogo Alemanha e Polônia sob o risco dos jogadores derrubarem aeronaves durante a partida.
O Equador, vejam vocês, ganhou de 2 a 0 e aumentou significativamente as chances de passar às oitavas, estragando meu bolão. Por isso, daqui por diante vou torcer para eles derrotarem a Costa Rica, disputarem a liderança do grupo contra a Alemanha e vencerem porque aí estragam o bolão do resto do planeta.

Grupo B
Inglaterra ganhou com gol contra do Gamarra e olhe lá. O Palmeiras conseguiu estragar um dos melhores zagueiros do mundo. E a Suécia, meu Deus!, a Suécia conseguiu empatar em zero a zero com Trinidad e Tobago jogando praticamente todo o segundo tempo com um jogador a mais. Pela façanha mereciam ganhar 4 pontos pelo empate ao invés de 1.

Grupo C
Argentina e Costa do Marfim fizeram o melhor jogo da Copa até aqui. Costa do Marfim é um time que joga e deixa jogar, por isso perdeu. Se estivesse em outro grupo poderia se classificar com maior facilidade. A Argentina jogou para o gasto. Riquelme esteve bem e Mascherano não fez nenhuma falta!
Sérvia e Montenegro, que aliás não existe mais, também poderia passar para outra fase se estivesse em outro grupo, mas a seleção não tem nada de mais e não parece o bicho-papão que os comentaristas queriam nos fazer crer. Aliás, a Holanda também não. Mas Robben joga o fino.

Grupo D
O México não jogou bem, mas conseguiu importante vitória sobre o Irã por 3 a 1. A seleção iraniana deu uma mãozinha ao tentar segurar um empate muito cedo. Uma pena porque achei os iranianos bem organizados em campo e durante a primeira etapa fizeram boa apresentação. Perderam por timidez. Já o México precisa mostrar mais futebol para justificar tanto tempo de preparação.
Portugal até deu sinais de que aplicaria a primeira goleada da Copa, mas fez uma partida chatíssima. A mistura da soberba de alguns jogadores portugueses com o estilo do Felipão de montar equipes fez de Portugal uma seleção extremamente antipática.

quinta-feira, junho 08, 2006

Palpites

David Beckham deveria ficar feliz se seu nome aparecesse entre os reservas dos maiores jogadores ingleses da história. Como perguntaram para ele qual o seu "time dos sonhos", é justo que tenha se incluído. Faz parte do humor inglês. Não relacionar o nome de Pelé também.
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Pelé e alguns jogadores da atual Seleção poderiam nos poupar de certos comentários. Vende jornal, gera polêmica e tal, mas entre todas as discussões a respeito de futebol o bate-boca entre gerações é disparada a mais besta.
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A piada está mais do que manjada, mas ainda funciona. Bastou o Pelé dizer que a seleção do Equador pode surpreender na Copa para eu não ter a menor dúvida e colocar nos bolões (andei muito ocupado nestes dias) a Polônia em segundo lugar do Grupo A.

terça-feira, junho 06, 2006

Sermão da planície

(para não ser escutado)
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Bem-aventurados os que não entendem nem aspiram a entender de futebol, pois deles é o reino da tranqüilidade.
Bem-aventurados os que, por entenderem de futebol, não se expõem ao risco de assistir às partidas, pois não voltam com decepção ou enfarte.
Bem-aventurados os que não têm paixão clubista, pois não sofrem de janeiro a janeiro, com apenas umas colherinhas de alegria a título de bálsamo, ou nem isto.
Bem-aventurados os que não escalam, pois não terão suas mães agravadas, seu sexo contestado e sua integridade física ameaçada, ao sairem do estádio.
Bem-aventurados os que não são escalados, pois escapam de vaias, preojéteis, contusões, fraturas, e mesmo da glória precária de um dia.
Bem-aventurados os que não são cronistas esportivos, pois não carecem de explicar o inexplicável e racionalizar a loucura.
Bem-aventurados os fotógrafos que trocaram a documentação do esporte pela dos desfiles de modas, pois não precisam gastar tempo infindável para fotografar o relâmpago de um gol.
Bem-aventurados os fabricantes de bolas e chuteiras, que não recebem as primeiras na cara e as segundas na virilha, como os atletas e os assistentes ocasionais de peladas.
Bem-aventurados os que não conseguiram comprar televisão a cores a tempo de acompanhar a Copa do Mundo, pois, assistindo pelo aparelho do vizinho, sofrem sem pagar vinte prestações pelo sofrimento.
Bem-aventurados os surdos, pois não os atinge o estrondar das bombas da vitória, que fabricam outros surdos, nem o matraquear dos locutores, carentes de exorcismo.
Bem-aventurados os que não moram em ruas de torcida institucionalizada, ou em suas imediações, pois só recolhem cinqüenta por cento do barulho preparatório ou comemoratório.
Bem-aventurados os cegos, pois lhes é poupado torturar-se com o espetáculo direto ou televisionado da marcação cerrada, que paralisa os campeões, ou do lance imprevisível, que lhes destrói a invencibilidade.
Bem-aventurados os que nasceram, viveram e se foram antes de 1863, quando se codificaram as leis do futebol, pois escaparam dos tormentos da torcida, inclusive dos ataques cardíacos infligidos tanto pela derrota como pela vitória do time bem-amado.
Bem-aventurados os que, entre a bola e o botão, se contentam com este, principalmente em camisa, pois se consolam mais facilmente de perder o botão da roupa do que o bicho da vitória.
Bem-aventurados os que, na hora da partida internacional, conseguem ouvir a sonata de Albinoni, pois destes é o reino dos céus.
Bem-aventurados os que não confundem a derrota do time da Lapônia pelo time da Terra do Fogo com a vitória nacional da Terra do Fogo sobre a Lapônia, pois a estes não visita o sentimento de guerra.
Bem-aventurados os que, depois de escutar este sermão, aplicarem todo o ardor infantil no peito maduro para desejar a vitória do selecionado brasileiro nesta e em todas as futuras Copas do Mundo, como faz o velho sermoneiro desencantado, mas torcedor assim mesmo, pois para o diabo vá a razão quando o futebol invade o coração.
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Carlos Drummond de Andrade